
O destino
trabalha de forma particular, tentar compreender suas obras é uma tarefa tão
besta e inútil que chego a pensar que viver sem expectativas ou muitos planos é
a melhor maneira de seguir. Eu que sempre leio os textos de Martha Madeiros e
me sinto representado por eles de uma forma tão verdadeira, as vezes me pego
vivendo essas cenas doloridas, carregadas e recalcadas. Somos seres totalmente
recalcados.
Não sei se
estou preparado para viver mais de um drama por vez, mas vivenciar estes temas
amorosos quando se tem algo tão maior que lhe inquieta a vida é quase
reconfortante, seria insuportável passar pelo trauma de mexerem nas entranhas
de nossa honra sem uma válvula de escape, pensando assim os temas românticos
são toleráveis.
Enfim, nos
encontramos na livraria, ele sempre dizia que seu sonho era encontrar o amor de
sua vida em uma livraria, eu noveleiro me vi imediatamente no café do Tony
Ramos em uma das novelas de Manoel Carlos, algo muito Leblon para se passar em
Goiânia, eu havia acabado de tomar o meu café de sempre, amo os cafés dos
shoppings e acho muito chique sair de minha pequena cidade para estes programas
capitalescos. O encontro foi bem por acaso, eu procurando a sessão dos
notebooks e ele sabe-se Deus o que procurava. Sei que o abraço foi inevitável,
um longo abraço desses que se afrouxam e apertam a medida do tempo, desses que
se pode dizer uma vida toda ao pé do ouvido, num tom que remeta saudade e se
segura o choro, sente-se o cheiro desde o perfume até o cheiro das lembranças.
Por fim,
solta-se o abraço, interminável... não fazia sentido ficarmos ali, ou seguirmos
juntos, pois de fato a vida tomou outros rumos.
“Vem passar o
fim de semana, estou morando só agora, fazemos pipoca, vemos TV, saímos, mas
vem...
A gente combina,
a gente combina...
Tentei te
ligar algumas vezes, mas não deu nada.
Anota meu
número novo.
Sim te mando
uma mensagem pelo WhatsApp.
Tudo bem, eu espero.
”
Não posso
reclamar da vida, tenho tanta poesia para viver e tenho vivido cada momento com
intensidade, são esses encontros que me fazem seguir. Talvez no auge de sua
liberdade ele não ligue nem deixe mensagem nenhuma, mas o que valeu mesmo foi
aquela cena, onde não parecia ter ninguém ao redor e eu pude dizer que senti
saudade, que eu senti uma falta dolorida e sem medida, que eu tinha saudades do
tom da voz, do cheiro e abraçar um pouco mais forte ao me despedir e como um
soldado batendo continência dizer “até”...
De tudo o que
sinto é que terminei de ler um livro e o fechei, era preciso dizer sem medo
essas cosias, era preciso fechar o livro.
Suspiros
muito profundos numa segunda de manhã.