domingo, 21 de setembro de 2008

Sagrado ou Profano?



Os cultos às divindades, a missa, a reza, as promessas os cantos em homenagem a tantas representações de uma força maior expressam as faces de uma sociedade embriagada de cultura e cheia ritos, rituais que vão da mágica ao transcendente em questão de segundos.
Lançando um olhar antropológico a tantos detalhes de tantos ritos podemos perceber no queimar da vela sobre no altar uma sacralidade, uma pureza singela dos pedidos que se elevam e a confiança depositada nas orações das mãos postas e dos joelhos dobrados. Esta é uma visão católica sobre umas das várias manifestações da crença do povo.
Assim sendo podemos lançar mão de um leque de variedades de cultos, crenças e todas as referências religiosas existentes na terra de santa cruz, um país que ainda busca sua identidade e que recebe constantemente uma carga de cultura vinda de tantas direções. Caracterizado por um sincretismo religioso onde tantas vertentes e credos se fundem e muitas vezes não sabemos onde começa um e termina outro.
Analisar todos esses códigos sociais é complicado e nos remete a dois conceitos: o Sagrado e o Profano. Essas duas escadas que estão sempre a postos para subirmos à lugares diferentes, onde caminhos se aproximam e se distanciam constantemente em entendimento e na concretude das ações.
Os signos usados para delimitar o que é Sagrado e o que é Profano estão ligados ao entendimento que se tem sobre estas duas pontes. O Sagrado é uma ponte que nos liga ao sobrenatural, à circunferência que dá status à palavra, e costuma-se usar essa ponte para chegar às coisas do céu, de Deus, de deuses.
A redoma que envolve o Sagrado é violada pelas flechas do Profano, onde a descaracterização do conceito anterior criará uma ponte que nos ligará às coisas advindas do senso comum, as coisas da terra. O dicionário define profano como algo "não pertencente à religião", "não sagrado", "secular"; enquanto que sagrado é algo "concernente às coisas divinas, à religião, aos ritos ou ao culto", "inviolável" ou "santo".
Sim, constantemente confrontam-se as idéias que no mundo há coisas sagradas e outras profanas, e será verdade se decidir se acreditar nas convenções que nos são apresentados e na forma que expõe-se estes caracterizadores da sociedade. Onde há uma facilidade de raciocinar quando encontramos o contrario das coisas, o oposto daquilo que “eu” não acredito para que “eu” não vá para determinados lugares, para que “eu” seja politicamente correto.
Todas as características do imaginário popular nos transportam a um mundo cheio dessas contradições entre poder, cultura, relações sociais e pessoais, uma transmissão de idéias que estão enraizadas e regulam a vida do homem que até então é considerado moderno, ou contemporâneo. O molde ao qual se encaixa esse homem que está em constante evolução ainda é um molde que impõe determinações sobre o que se é e o que não é, e venda os olhos à coexistência destes conceitos.
Não há sagrado sem haver profano, e podemos perceber isso nas festas religiosas onde enquanto segue a procissão ao som dos cantos mais tradicionais e carregam um andor de santo, os homens bebem cachaça e jogam cartas às margens do caminho e à luz das velas nas mãos das beatas.
Quando somos batizados nos tornamos seres sagrados e profanos: sagrados pela água do batismo nos tornando parte integrante da igreja católica, e profanos por não estarmos isentos ao mundo e essa é a mais bela contradição que se há de encontrar, ser do céu e da terra.

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