quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor.

Então quando está faltando três minutos para o fim do segundo tempo, ganhando ou perdendo, escutamos a torcida aquecida pelo espírito nacionalista em um só tom: “Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”... O juiz apita, fim de partida e cada um toma o seu rumo e no caminho de casa o engarrafamento se estende ao longo das marginais e o grito agora já não é mais tão nacionalista como a alguns instantes atrás: sai da frente, tira o pé do freio, ó droga de rua maldita... Em casa desligamos a TV depois que o Galvão falou “Globo e você, tudo a vê”, guardamos as sobras dos petiscos pra comer no almoço de amanhã e nos despedimos dos vizinhos que estavam todos na varanda alegres por ver mais uma exibição de gala da paixão nacional.. Tudo foi entrando nos “eixos”, as luzes se apagam e nas casas a vida cotidiana toma seu rumo. As contas vencidas pregadas na porta da geladeira, a consulta marcada no postinho de saúde que deveria se chamar postinho da doença, ônibus lotado logo pela manhã e o brasileiro nem se lembra mais do refrão, do orgulho e do amor à pátria. É engraçado como nosso ser brasileiro é diferente, somos como uma luz que é ligada só de vez em quando e apagada na maioria do tempo, essa brasilidade tão cantada nas músicas compostas à sombra da Ditadura Militar que moveu uma geração de apaixonados pelo “ser brasileiro” hoje foi trocada por rimas pobres do tipo “Paz, carnaval, futebol não mata, não engorda e não faz mal”... É certo que realmente nenhum desses ingredientes faz mal algum, mas é uma pena que o retrato do Brasil esteja sendo pintado com tintas de um povo que esqueceu o verdadeiro sentido de nação, se é que o conheceu algum dia. Na verdade tudo sempre foi muito bem apresentado e representado desde os primórdios, a tentativa de imprimir no povo um espírito de nacionalismo através de hinos, bandeiras, cores e canções “As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam com lá”. Esqueçamos as palmeiras, os sabiás, marchemos, pois seremos logo, logo, a cede do nacionalismo da paixão nacional... Em 2014 tem copa do mundo aqui na terra de Santa Cruz, na terra descoberta por um povo e coberta de verde e amarelo que reflete o sintoma da ação do amor à pátria. E é na mistura eclética e sincrética que o Brasil se torna a terra de todos os povos, a menina dos olhos das potências econômicas, o pulmão do mundo, a terra do samba, a mãe adotiva do futebol e de um povo que nem sempre se lembra do valor de sua história. Mas não nos preocupemos, pois o próximo jogo da seleção já está marcado!

Um comentário:

Marcos Freitas disse...

Enquanto isso não fazemos gritos de ordem emquanto ocorrem sessões no congresso, e a vida continua a mesma, os mesmos políticos, e o orgulho nacional apnas em dias de jogos da seleção.

Um absurdo, vivemos num país que se resuma a futebol e carnaval.